Não tenho - e nunca tive - a pretensão de fazer proselitismo com os textos que escrevi e escrevo para jornais. Já são três décadas e meia dessa instigante e normalmente prazerosa experiência, que, não raro, para o bem e para o mal, provoca manifestações dos amigos leitores.
Assim como não aceito verdades prontas, impostas goela abaixo, não posso ter a pretensão de impor opiniões a quem quer que seja. Provocar algum tipo de reflexão é o propósito. Fazer contraponto a determinadas "verdades", que nos são impingidas diariamente, para instigar debates que tragam alguma luz às trevas que tentam se vender como caminhos únicos para a felicidade, para a transformação e o progresso da pátria devem ser obrigação de quem, como eu, é um privilegiado em nosso país, onde a miséria é endêmica e a esperança de milhões de (sub)cidadãos se resume à possibilidade de um prato de comida, de uma aspirina para aliviar suas dores físicas, de um barraco na beira de alguma sanga poluída e, sonho dos sonhos, de um trabalho subalterno, que outro não haverá por analfabetismo e falta de educação.
Assim, apesar dos calos anímicos que o tempo faz crescer em nosso peito e de minha permanente predisposição para o diálogo e para o entendimento, aqui e ali me surpreendo com os vendedores de ilusões, que fazem germinar a toda hora e em todas as estações, o pior dos sentimentos de um povo em relação ao próprio futuro, que é a crença sebastianista, e de fortíssimo apelo populista, nos salvadores da pátria, que se repetem a cada quadro do tempo.
Transvestidos das mais variadas personagens, mas, sempre, alinhados com o discurso fácil, que satisfaz o gosto popular e superficial em relação à compreensão dos fenômenos sociológicos que ajudaram a construir o país torto e desigual que somos, os salvadores da pátria e seus seguidores, ao lado de inadmitirem contrapontos, tentam vender a ideia de que quem deles discorda é a reencarnação do demônio, tenha o demônio as cores que tiver. Modernamente, como já aconteceu anteriormente, o demônio da hora é o morto comunismo do leste europeu, o chamado socialismo real, cuja pior face, sem qualquer dúvida, é a que ostenta Stalin como líder.
Os modernos pregadores, à feição do que ocorria nos tempos da Guerra Fria, veem fantasmas comunistas em quaisquer manifestações que contrariem seus postulados ultraconservadores e apartados da ideia de mudança radical e de redenção da nacionalidade pelo progresso inclusivo e transformador, sustentado no conhecimento e na capacidade crítica advindos da educação libertária, que é a educação de qualidade, que forma cidadãos e não apenas manipuláveis marionetes, fantoches funcionalmente analfabetos.
A tal ponto chegou essa onda ultraconservadora, que, seus adeptos, para tentar um descolamento dos óbvios fundamentos nazifascistas - que, muitas vezes, animam seus posicionamentos políticos - criaram uma absurda teoria antiacadêmica: a de que o nazismo e o fascismo foram movimentos político-ideológicos funcionalmente de esquerda. Isso tem cara de desespero, mas não é. É estratégia, caolha, mas estratégia.